Lisboa, 04 Mai (Inforpress) – O presidente da União dos Estudantes Cabo-verdianos de Lisboa (UECL) concorda com a proposta do semestre zero para estudantes dos PALOP, mas que não seja obrigatório ou que seja baseado numa prova de aferição.
À Inforpress, Edson da Veiga explicou que é com o objectivo de debater os benefícios e limitações de uma possível implementação do semestre zero para universitários dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) nas instituições de ensino superior em Portugal, que a UECL promoveu na sexta-feira, 03, um encontro denominado “Tertúlia jovem semestre zero para universitários dos PALOP”.
“A questão do semestre zero é uma proposta que nós olhamos como sendo uma solução que pode vir, a curto prazo, minimizar questão da integração, mas só que temos um certo receio de como vão o implementar”, concretizou a mesma fonte.
Contudo, Edson da Veiga disse que a UECL é de opinião que não deve ser obrigatório, mas sim opcional, ou ter um teste de aferição para fazer a diferenciação entre os estudantes e não colocar todos a pagar para uma situação que “pode não enquadrar na sua”.
O presidente da UECL chama a atenção para as dificuldades de integração não serem tratadas só no destino onde o estudante vai estudar, neste caso Portugal, mas que isso aconteça também “por dentro”, ou seja, que este mesmo tipo de estudo seja realizado pelas entidades cabo-verdianas.
Isto porque, continuou, quando é executado por quem tem a mesma origem e que passou pelas mesmas dificuldades, há possibilidade e capacidade de “dar muito mais soluções do que o estudo feito por terceiros”.
“Há também a necessidade de dentro de casa prepararmos melhor os nossos estudantes, perceber onde é que estamos a falhar para podermos fazer melhor essa preparação e fazer com que os estudantes possam entrar no ensino superior, tanto em Cabo Verde, como fora do país, melhores preparados”, destacou Edson da Veiga.
A proposta da implementação do semestre zero surgiu do relatório “Perfil dos Estudantes dos PALOP nas Instituições de Ensino Superior em Portugal”, visando de potencializar a integração e o sucesso académicos desses mesmos estudantes, que têm enfrentado algumas barreiras a nível linguístico e a nível do domínio das tecnologias da informação e da comunicação.
O estudo realizado entre 2015 e 2021 e agora divulgado pelo Centro de Estudos Internacionais do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), sugere um período preparatório para esses alunos estrangeiros, para favorecer a integração e responder à forte procura, principalmente nas instituições do interior de Portugal.
De acordo com os investigadores, os alunos dos PALOP “não têm falta de competências em termos académicos, mas têm muita dificuldade de integração, não conhecem as matérias, não conhecem a forma de ensino e têm, muitas vezes, dificuldades linguísticas”, e que por isso, um semestre zero afigura-se como crucial para estes estudantes.
A medida já foi anunciada pelo anterior Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e tem implementação prevista para o próximo ano lectivo.
Segundo Edson da Veiga, quando o estudo foi divulgado, no último mês, “apanhou muitas pessoas de surpresa” porque foi feito entre 2015 e 2021 e grande parte dos estudantes não participaram e não tinham esse conhecimento.
Contudo realçou que os resultados do relatório foram recebidos pela associação que dirige, com “muito agrado”, já que demonstra que os portugueses estão atentos, identificaram uma falha e acionaram um mecanismo que os permite entender o que se está a passar e apresentar soluções.
“O estudo tem uma visão quase mais quantitativo da realidade de estudantes, por isso, chamamos a atenção de que nem sempre tem a ver com os números, porque há um perigo de colocar todos estudantes dos PALOP no mesmo cesto, quando cada um vem de uma realidade diferente e se um está numa situação mais deficitário, pode penalizar o outro que está numa situação mais estável”, explicou.
Edson da Veiga lembrou ainda que o referido estudo aborda muitos aspectos, mas realçou o facto de um “bom número de estudantes que vem com estatuto especial, assim como há outra grande parte que vem com estatuto internacional”, principalmente para mestrado, o que traz alguma dificuldade, por causa do montante das propinas para estudantes internacionais.
“A propina é um valor bastante elevado. Quando considerarmos a realidade financeira desses países é insuportável e, nos PALOP, a educação é chave”, concluiu, sustentando que é algo que deve ser revisto, sem esquecer que muitos estudantes são trabalhadores, mas não beneficiam do estatuto, porque trabalham sem contrato, ou não têm conhecimento da lei.
DR/AA
Inforpress/Fim
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